sábado, 8 de março de 2014

O QUE FAZ A MÚSICA NA ESCOLA?

Reflexões Sobre Música, Cotidiano, Cidadania E A Valorização Do Educador



Diante de um mundo cada vez mais complexo, em que se desenvolve um cenário bastante desigual, tanto na distribuição econômica como cultural, podemos falar que a cidadania corre certos riscos de não ser efetivada, e, muitas vezes, não tem sequer espaço no ambiente da sala de aula. Perde-se por um lado a sensibilidade, o sentimento humanista, cada vez mais em prol de uma atitude darwinista que demarcou muito, desde o passado, as relações de poder na sociedade. Ainda hoje, esta lei do “mais forte” prevalece, sendo que, entre as relações humanas não é diferente.

Neste sentido, como proposta político-sócio-formativa, são importantes as diversas cenas e cenários musicais do cotidiano, os quais, narram histórias de vida, manifestam sentimentos, expõem a realidade de pessoas excluídas, de artistas anônimos, mendigos, vendedores, músicos e artistas de rua, de inúmeras personagens de todos os cantos do planeta. Ao apresentar aos alunos, as cenas musicais colhidas no dia a dia, imprime-se uma importância significativa ao trabalho de educação musical dentro de sala de aula com as bandas de música, orquestras, grupos instrumentais, cantores e instrumentistas, pois, ao mesmo tempo, servem de ferramentas de apreciação e conscientização, trazendo o sentimento de empatia com a realidade em que todos estão inseridos.

Particularmente, quando ensino música, tenho a preocupação de formar o educando, no sentido de que seja ele um cidadão. É importante definir o conceito de “cidadão”, pois, dentro deste conceito, abrimos o diálogo, ou pelo menos a mediação de uma conversa com a realidade social, da vida em comunidade, da valorização dos contextos de vida, do entendimento das relações políticas de poder, para que possam construir a própria realidade e libertarem-se da dominação cultural, historicamente imposta pela classe dominante global. Assim, a cidadania é uma ferramenta de construção de novas realidades em diversos âmbitos. 
Filho e Neto(2001) ponderam sobre a origem e significado do conceito de cidadania em sua pesquisa sobre a evolução do conceito: “a cidadania é notoriamente um termo associado à vida em sociedade. Sua origem está ligada ao desenvolvimento das póleis gregas, entre os séculos VIII e VII a.C. Apartir de então, tornou-se referência aos estudos que enfocam a política e as próprias condições de seu exercício, tanto nas sociedades antigas quanto nas modernas. Por outro lado, as mudanças nas estruturas socioeconômicas, incidiram, igualmente, na evolução do conceito e da prática da cidadania, moldando-os de acordo com as necessidades de cada época. (FILHO e NETO, 2001, p. 1). 

Souza (1993) propõe que o único caminho para que essa cidadania seja alcançada é o da educação. Reflete que no Brasil os filhos de colonizadores portugueses iam para Lisboa estudar e voltavam senhores. Criava-se então a elite brasileira, sendo que “foi assim que se criou a casa grande e a senzala. Filho de branco, doutor. Filho de negro, escravo analfabeto”.(p.1). 
O autor não vê alternativa para a mudança da sociedade se não for a educação, de modo que ela desenvolve esse potencial de cidadania nas pessoas. “Educar, por tudo isso, é fundamental. Qualquer país que quiser existir tem de educar. Qualquer cidadão que quiser se afirmar tem de se educar. Qualquer família que quiser sobreviver tem que educar todos os seus filhos e filhas. Educar é saber viver no mundo real, é se comunicar, é saber do passado e ter como construir o futuro. Educar é possuir tudo o que a humanidade acumulou ao longo de sua história. Por isso, um país pode ser avaliado pelo modo como trata sua educação, suas escolas, professores, crianças e jovens. No Brasil, a situação é grave. Tratamos tudo muito mal. Precisamos tratar tudo muito bem. Precisamos transformar aeducação em prioridade real de todos. Precisamos construir um outro país, uma outra cultura. (SOUZA, 1993, p.1). 

Sendo assim, então, senhores políticos e sociedade em geral tratem bem os professores e a educação, de modo geral. MÃOS À OBRA!

Jair Gonçalves - 08/03/2014.

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